Política é diálogo: o poder de construir ouvindo
- blogdojucem
- 10 de nov.
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Há algo no ar no Amazonas. E não é apenas o calor amazônico que marca este fim de ano. É o aquecimento do ambiente político, perceptível nas relações entre o Executivo e o Legislativo em diversos municípios do estado — especialmente nas Câmaras Municipais do interior e até na própria capital. O que se observa nas últimas semanas é uma escalada de tensões institucionais e o aumento do tom das críticas, em meio a um visível desgaste entre deputados e suas bases parlamentares.
Secretarias estratégicas — como as de Obras, Saúde, Educação e Infraestrutura — vêm sendo alvos recorrentes de reclamações e cobranças públicas. A pauta das sessões na assembleia legislativa tem revelado um sentimento de impaciência crescente. E o mais significativo: esse desconforto já não se limita à oposição. Parlamentares alinhados ao governo do estado começam a demonstrar sinais claros de irritação, seja pela falta de diálogo, seja pela sensação de distanciamento político entre os poderes.
Esse cenário deveria acender um alerta no governador Wilson Lima. Na política, quando o diálogo falha, o ruído se instala. O silêncio do Executivo, diante de questionamentos legítimos, pode ser interpretado como desdém — e desdém, em política, tem alto custo. Pequenos atritos, quando não contidos a tempo, costumam se transformar em crises de proporções difíceis de administrar.
É importante reconhecer que muitos governos municipais têm enfrentado limitações orçamentárias, e não estão conseguindo manter serviços essenciais funcionando e muito menos avançar em obras pontuais. Os prefeitos estão recorrendo a deputados parceiros, que reclamam não estarem sendo atendidos pelo governador. O que se percebe, é um vácuo de protagonismo político. Falta ao governador projetos estruturantes para os municípios, símbolos de gestão, pautas que mobilizem a opinião pública e conectem a população com o futuro de suas cidades e do estado.
O publicitário Washington Olivetto dizia que “se um assunto não é pauta de mesa de bar, ele não existe”. Na política amazônica, o paralelo é evidente: se o cidadão não comenta, não sente e não se engaja, o governo perde narrativa. Em tempos de redes sociais, quem não cria pauta acaba virando pauta — e geralmente, pelas razões erradas.
Enquanto o Executivo hesita em ocupar esse espaço de diálogo e liderança, o Legislativo avança. Deputados, tanto da oposição quanto da base, têm utilizado o plenário e as redes como trincheiras de visibilidade. Problemas administrativos que poderiam ser resolvidos numa reunião de gabinete acabam virando discursos inflamados e vídeos virais. E a política regionais, que deveria ser o espaço da construção, vira palco de ruídos e ressentimentos.
Curiosamente, na mesma semana, a Associação Amazonense de Municípios promoveu um encontro que destacou a importância da harmonia entre os poderes para o desenvolvimento regional. Um lembrete oportuno de que nenhuma gestão prospera isoladamente. Governar é dialogar — e o diálogo, quando substituído pelo silêncio, cobra seu preço: o da governabilidade.
A lição é simples, mas constante: política é, antes de tudo, relacionamento. E, no Amazonas, onde os desafios logísticos e sociais exigem cooperação permanente, essa verdade se torna ainda mais urgente.




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