Quando a esperança se transforma em caminho
- blogdojucem
- há 13 horas
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Nasci e cresci na zona sul de Manaus, no bairro de São Lázaro. Foi ali, entre ruas simples, casas humildes e muita luta diária, que aprendi as primeiras lições da vida. A infância foi marcada por desafios, mas também por esperança. Lembro dos meus amigos, gente comum como eu, que enfrentou dificuldades, medo e incertezas, mas que nunca abriu mão da fé em Deus, do trabalho honesto e do estudo como caminho de transformação. Muitos deles venceram. Hoje são profissionais respeitados, pais e mães de família, referências vivas para a nova geração da nossa comunidade. Provas concretas de que é possível mudar o caminho.
Mas viver com medo e incertezas é um desafio do nosso tempo. Não é fácil assistir — ou fazer parte — de um mundo onde pessoas morrem em guerras insanas, em conflitos violentos nas periferias das cidades, ou de fome por causa da exclusão social. Um mundo em que muitos políticos trocam a representação autorizada pelo voto popular por negociatas e pela expansão de domínios familiares. Um mundo em que Estados e seus parceiros decidem quem pode viver e quem pode morrer. Às vezes, parece mesmo que tudo caminha para dias piores.
Ainda assim, eu acredito. Acredito porque vi, no São Lázaro, que é possível mudar realidades. É possível construir um mundo mais fraterno, com a certeza de dias melhores para todos. Não é tarefa fácil, nunca foi. Mas é necessária.
Existe uma realidade no Amazonas — e que se conecta ao Brasil e ao mundo — que precisa ser transformada com muita fé, com ações políticas práticas e com solidariedade verdadeira. Nas comunidades das nossas cidades, nas periferias que crescem às margens dos rios e das avenidas, milhares de pessoas ainda lutam todos os dias para sobreviver. E não se constrói um futuro melhor sem o envolvimento de quem realmente deseja a mudança.
A fé, nunca foi apenas um refúgio espiritual. Ela sempre foi força para resistir, para partilhar o pouco que se tem e para seguir acreditando mesmo quando o poder público falha. Fé também é compromisso com boas relações sociais, movidas pelo amor ao próximo, e com a defesa de transformações que enfrentem a injustiça que mantém tanta gente presa à pobreza.
Mas é impossível falar disso sem tocar numa ferida aberta: muitos que um dia saíram da comunidade, esqueceram o que é ter vindo dela. Esqueceram as ruas de barro, a casa simples, a ajuda do vizinho. Hoje, viram as costas para quem ficou para trás, preso às dificuldades da vida, como se o sucesso individual apagasse a responsabilidade coletiva. Esse esquecimento também alimenta a desigualdade.
Da mesma forma, a política no Amazonas não pode ser vista apenas como coisa de partidos ou de políticos. Ela está nas escolhas do dia a dia, nas eleições e também depois delas. Ela nasce do envolvimento consciente ou da omissão silenciosa de cada cidadão. Votar com responsabilidade e ética é um compromisso com o bem comum e com quem mais precisa. É assim que impedimos que a política seja sequestrada por interesses econômicos, por grupos fechados ou por projetos familiares que se perpetuam no poder.
A solidariedade, por sua vez, precisa ser ampla e sem seletividade. Não pode depender de gênero, cor da pele, bairro ou origem social. No Amazonas, todos que sofrem — nas comunidades, nos becos, nas palafitas ou nas áreas mais esquecidas — merecem ajuda e respeito. Solidariedade é reconhecer a dor do outro como se fosse nossa, é não virar o rosto para quem ficou para trás, e é entender que ninguém se salva sozinho.
E nunca se esqueça: levante a cabeça, busque autonomia intelectual, viva com leveza, seja criativo, sorria sempre. Não permita que o medo e a incerteza escravizem você. Caminhos serão transformados, quando o ser humano se libertar de suas próprias correntes materiais e culturais — assim como muitos de nós conseguimos fazer lá atrás, nas ruas simples do São Lázaro.




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